O porquê de eu estar whitepillado sobre Leão XIV.
Texto original por Gideon Lazar.
Vejo alguns dos meus companheiros católicos entregues ao pessimismo diante da eleição do Cardeal Robert Prevost como Papa Leão XIV. Muitos apontaram sinais inquietantes, como o apoio que recebeu do Pe. James Martin. No entanto, eu estou esperançoso.
Se a Igreja fosse apenas uma instituição humana, eu compartilharia dessas preocupações. Contudo, a Igreja é o Corpo de Cristo, e portanto é ao mesmo tempo humana e divina. Quaisquer que tenham sido as motivações que levaram o Colégio dos Cardeais a eleger Leão, ele agora é, sozinho, o papa — e assim será o chefe visível da Igreja provavelmente pelos próximos vinte anos. Deus pode guiá-lo a fazer tudo o que for necessário.
Acredito que sua escolha do nome “Leão” seja muito profética. Foi essa escolha que me encheu de esperança. Em especial, creio que um sucessor americano de Leão XIII é extremamente apropriado.
Leão XIII foi o primeiro papa a escrever para os Estados Unidos da América. Três de suas encíclicas são particularmente importantes. A primeira, embora não escrita diretamente aos Estados Unidos, é sua encíclica de 1892, Quarto abeunte saeculo, comemorando o 400º aniversário da viagem de Colombo. Enquanto hoje a maioria das pessoas pensa em Colombo como alguém movido por interesses financeiros, Leão XIII aponta sua verdadeira motivação:
“Colombo uniu ao estudo da natureza o estudo da religião, e formou sua mente com os ensinamentos que brotam das profundezas mais íntimas da fé católica. Por essa razão, ao aprender, pelas lições da astronomia e pelos registros dos antigos, que havia vastas regiões a oeste, além dos limites do mundo conhecido — terras até então jamais exploradas por homem algum — ele viu em espírito uma multidão imensa, envolta em trevas miseráveis, entregue a ritos perversos e ao culto supersticioso de deuses vãos. Miserável é viver em estado bárbaro e com costumes selvagens; mais miserável ainda é não conhecer aquilo que é mais elevado, e habitar na ignorância do único Deus verdadeiro. Considerando essas coisas em seu íntimo, procurou antes de tudo estender o nome cristão e os benefícios da caridade cristã ao Ocidente, como é abundantemente demonstrado pela história de toda a sua empresa. Pois quando ele primeiro solicitou apoio a Fernando e Isabel, soberanos da Espanha, temendo que relutassem em incentivar tal empreitada, explicou-lhes claramente o seu propósito: ‘Que sua glória alcançaria a imortalidade se resolvessem levar o nome e a doutrina de Jesus Cristo a regiões tão distantes’.” (QAS, 4)
A missão de Colombo era, antes de tudo, a propagação do Evangelho até os confins da Terra. Isso se confirma em seus próprios escritos, que — como Leão recorda — revelam um homem profundamente piedoso.
De fato, outro dos objetivos de Colombo (embora Leão não o mencione) era arrecadar fundos para uma cruzada que retomasse a Terra Santa e restaurasse a Igreja do Santo Sepulcro, em cumprimento de profecias bíblicas sobre os tempos finais. Mas, para voltar ao ponto de origem de tudo, ele primeiro precisava ir até os confins do mundo. E realmente foi além do que era conhecido em sua época.
A próxima encíclica de Leão XIII sobre a América foi Longinqua oceani, em 1895. Essa foi a primeira dirigida especificamente aos Estados Unidos. Leão narra a história da fundação da América, mas começa recordando Colombo:
“Quando a América era ainda como um recém-nascido, balbuciando seus primeiros fracos clamores em seu berço, a Igreja a acolheu em seu seio com abraço materno. Colombo, como já mostramos expressamente em outra ocasião, buscava, como fruto principal de suas viagens e esforços, abrir caminho para a fé cristã em novas terras e mares. Tendo isso sempre presente, sua primeira preocupação, em cada desembarque, era plantar na costa o sagrado emblema da cruz. Assim como a Arca de Noé, que sobre as águas transbordantes conduzia a semente de Israel com os remanescentes da raça humana, assim também as naus lançadas por Colombo sobre o oceano levaram para além dos mares tanto os germes de poderosos Estados quanto os princípios da religião católica…
Os nomes recém-dados a tantas de suas cidades, rios, montanhas e lagos ensinam e testemunham claramente quão profundamente vossos inícios foram marcados pelas pegadas da Igreja Católica.” (LO, 2–3)
As origens da América não estão em 1776, mas na viagem católica de Colombo.
Ainda assim, Leão também elogia a Guerra de Independência americana:
“Talvez o fato que agora recordamos não tenha ocorrido sem algum desígnio da Providência divina. Justamente na época em que as colônias americanas, tendo alcançado com ajuda católica a liberdade e independência, se uniram em uma república constitucional, a hierarquia eclesiástica foi felizmente estabelecida entre vós; e no mesmo momento em que o sufrágio popular colocava o grande Washington à frente da República, o primeiro bispo era instituído pela autoridade apostólica sobre a Igreja americana. A bem conhecida amizade e familiaridade que existiu entre esses dois homens parece ser um sinal de que os Estados Unidos devem estar unidos em concórdia e amizade com a Igreja Católica. E não sem razão: pois sem moralidade o Estado não pode subsistir — verdade essa que aquele vosso ilustre cidadão, que acabamos de mencionar, com percepção digna de seu gênio e estadismo, soube reconhecer e proclamar. Ora, o melhor e mais firme apoio da moralidade é a religião.” (LO, 4)
Contrariamente ao retrato antiamericano que alguns tradicionalistas fazem de Leão XIII, ele via a vitória americana contra a Inglaterra como parte da obra da Providência divina. Ele reconhece tanto a virtude natural de George Washington quanto a ajuda dada pela Igreja Católica. A liberdade concedida à Igreja pelos Estados Unidos permitiu seu florescimento, e a graça concedida pela Igreja ajuda, por sua vez, a aperfeiçoar a natureza.
Leão prossegue relatando os diversos modos pelos quais a Igreja Católica americana prosperava, como a fundação da Universidade Católica da América em 1889 (minha alma mater!). Leão chega a profetizar a futura grandeza dos Estados Unidos:
“Todos os homens inteligentes concordam, e Nós mesmos já o dissemos com prazer acima, que a América parece destinada a grandes coisas. Ora, é nosso desejo que a Igreja Católica não apenas participe, mas contribua para a realização dessa grandeza futura. Consideramos justo e apropriado que ela, aproveitando-se das oportunidades que lhe são diariamente oferecidas, acompanhe a República em seu progresso, ao mesmo tempo em que se esforce, por meio de suas virtudes e instituições, para auxiliar no rápido crescimento dos Estados.” (LO, 13)
Leão também expressa algumas preocupações quanto à Igreja na América. Essas seriam retomadas em sua encíclica de 1899, Testem benevolentiae nostrae, na qual denominou esses erros de “americanismo”. Eles podem ser resumidos como a colocação da ideologia americana (de esquerda ou de direita) acima do ensinamento católico.
No entanto, como se vê em Longinqua, Leão não acreditava que o americanismo fosse essencial à América. A verdadeira fundação dos Estados Unidos está na evangelização católica de Colombo e nos princípios da lei natural que fundamentaram a independência — princípios que, penso eu, estudiosos como Adrian Vermeule mostraram poder ser interpretados segundo a tradição clássica da lei natural, mesmo que os fundadores tenham sido influenciados pelo liberalismo. De fato, até mesmo o caráter cristão da América, devido à viagem de Colombo, foi reconhecido oficialmente na jurisprudência dos Estados Unidos, no caso da Suprema Corte de 1892 Church of the Holy Trinity v. United States. Leão XIII publicou Quarto abeunte saeculo exatamente um dia antes de esse caso ser julgado! (E Longinqua foi publicada exatamente três anos depois!)
Por fim, uma outra conexão importante: Leão XIII teve uma visão de Satanás tentando corromper a Igreja. Em resposta, compôs a famosa Oração a São Miguel Arcanjo. Notavelmente, Leão XIV foi eleito no dia 8 de maio, festa da Aparição de São Miguel Arcanjo. Essa aparição ocorreu durante o pontificado de, e foi confirmada por, São Gelásio I, o papa que primeiro delineou o ensinamento das “duas espadas” e da submissão do temporal ao espiritual — um tema frequentemente retomado por Leão XIII, inclusive em sua resposta ao americanismo.
Dado tudo isso, creio que a eleição de um americano como Leão XIV no dia 8 de maio é providencial. Quaisquer que tenham sido as motivações dos eleitores, acredito que Deus suscitou Leão XIV em sua providência para um propósito importante. Ele terá um longo pontificado, e a maioria dos eleitores no próximo conclave terá sido nomeada por ele. O futuro da Igreja será leonino. Lembremo-nos de que o Beato Pio IX foi eleito como liberal. Leão XIV é agora um novo homem, e penso que estará à altura de seus predecessores. Se a Igreja Católica fosse uma instituição humana, talvez eu estivesse desesperado neste momento — mas ela não é. Ela é o Reino de Deus!
Como disse Leão XIII, Deus, em sua providência, suscitou os Estados Unidos da América e os destinou à grandeza. Um papa santo americano é exatamente o que precisamos agora. Que ele nos incentive à grandeza, mas também nos corrija em nossos erros. Que ele conduza nosso país de volta aos verdadeiros princípios da lei natural, e que nos leve a aceitar o jugo de Cristo, para que a natureza seja aperfeiçoada pela graça.
Rezemos diariamente a oração de São Miguel por ele, para que possamos ter um novo Papa São Leão Magno:
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos; e vós, Príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.
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