Obedecer ao papa "só em Ex Cathedra"? Cardeal Tucho responde!


 Vídeo da resposta do cardeal:


Discurso dado na conferência de publicação da declaração Dignitas Infinita


Entrevistador: Que tipo de recepção deve-se ter o documento (Dignitas Infinita)?

Tucho: Ah, "que tipo de recepção"... Mas olha:

Gostaria de aproveitar para esclarecer uma coisa.

Algumas pessoas que anos atrás quase adoravam o Papa agora dizem que "o papa só deve ser escutado quando fala Ex Cathedra", "Quando há um dogma de fé ou uma declaração definitiva". "Mas se não for esse o caso, podemos fazer o nosso pensamento" "Sem escutar o papa", não é? Isso aparece muito forte hoje, não é? "Se não fala Ex Catedra"...

Mas ouça: o Papa Francisco nunca falará Ex Cathedra. Posso garantir que ele não vai! Não vai criar um novo dogma de fé por nada, nem uma declaração definitiva. Espero não estar errado, mas estou quase 100% certo que não fará. Ora, não servirá de nada que o Papa Francisco passou 11 anos como Sumo Pontífice. Porque ele nunca fará isso, não é? 

Acreditamos que, além do carisma da infalibilidade (nestes casos), o Papa também conta com a ajuda do Espírito para lidar a Igreja. Porque se te dão uma tarefa, o Espírito Santo te dará uma ajuda, um carisma. Não somente a infalibilidade. Há uma assistência do Espírito para guiar e iluminar a Igreja.* Para isso, ouça o Código de Direito Canônico que trouxe. Diz:

"Cân. 752: [...] deve contudo prestar-se obséquio religioso da inteligência e da vontade àquela doutrina que o Sumo Pontífice no exercício de seu magistério autêntico ensina sobre a fé e costumes apesar de não ter intenção de a proclamar com um ato definitivo"

 "[..] apesar de não ter intenção de a proclamar com um ato definitivo". 

Observe o que diz o Código de Direito Canônico. Se deve prestar um consentimento religioso da inteligência e da vontade, mesmo que não haja um dogma de fé ou uma declaração definitiva. E também está na Lumen Gentium, número 25:

"Esta religiosa submissão da vontade e do entendimento é por especial razão devida ao magistério autêntico do Romano Pontífice, mesmo quando não fala ex cathedra; de maneira que o seu supremo magistério seja reverentemente reconhecido, se preste sincera adesão aos ensinamentos que dele emanam segundo o seu sentir e vontade estes manifestam-se sobretudo quer pela índole dos documentos quer pelas frequentes repetições da mesma doutrina quer pelo modo de falar."

Nós escutamos quando se tornamos padres ou bispos ou quando nos dão uma tarefa, que devemos fazer uma profissão de fé e um juramento onde dizemos que prestamos esse acolhimento de inteligência e vontade mesmo quando não há intenção de proclamar essas verdades de modo definitivo. Nós temos jurado! E alguns bispos, entre ele cardeais, que tratam o papa como herético e que dizem que o que Francisco disse é contra a Tradição da Igreja, parece que eles não fizeram este juramento, não é? Que dizem "olha, quando o papa não fala Ex Cathedra você é livre para pensar o que quiser e continuamos com o nosso discurso".

Quando em um ponto de Amoris Laetitia o papa publicou na Acta Apostolicae Sedis sobre o ponto de divorciados recasados, há um escrito que se deve ser mantido como magistério autêntico. Aquele ensinamento autêntico que se deve acolher com respeito de inteligência e vontade. Ora, os documentos do dicastério quando são assinados pelo papa, e assim aprova e também encomenda a publicação, participa do magistério autêntico do papa.

Mas veja que hoje, até os protestantes sentem um respeito especial pelo Papa Francisco. Se eu falar, se falar outro cardeal, se o Cardeal Zuppi falar, se o Cardeal Müller falar, se falar qualquer outro; sabe que existe uma diferença, não é? O que se fala do papa é diverso, não é? Até os protestantes prestam uma atenção especial.

Aqui, Lumen Gentium diz que é possível entender a importância do que o papa diz "quer pelas frequentes repetições da mesma doutrina, quer pelo modo de falar." Ao se dirigir ao nosso departamento, ele (papa) disse: "Quero sublinhar duas coisas. Quero sublinhar". Faz você entender a importância dessas palavras.


*O cardeal não citou em seu discurso, mas o próprio papa São João Paulo já falou desta ajuda na Audiência Geral de 24 de março de 1993 (cuja série inteira de catequeses poder ser vista aqui no blog):

"A par desta infalibilidade das definições ex cathedra , está o carisma da assistência do Espírito Santo, concedida a Pedro e aos seus sucessores para que não errassem em matéria de fé e de moral, mas antes lançassem grande luz sobre o povo cristão. Este carisma não se limita a casos excepcionais, mas abrange em diversos graus todo o exercício do magistério." 

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