A fala do Papa Francisco sobre a cláusula da "Filioque"

O papa, na audiência geral de hoje (16 de outubro de 2024): disse o seguinte sobre a Filioque:

"O que nos diz, a nós crentes de hoje, o artigo de fé que proclamamos todos os domingos na Missa: “Creio no Espírito Santo”? Dele, no passado, falava-se principalmente a propósito da afirmação de que o Espírito Santo “procede do Pai”. A Igreja latina completou depressa esta afirmação, acrescentando, no Credo da Missa, que o Espírito Santo procede “também do Filho”. Dado que em latim a expressão “e do Filho” se chama “Filioque”, daqui surgiu a disputa conhecida com este nome, que foi a razão (ou o pretexto) de muitas contendas e divisões entre a Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente. Certamente não é o caso de abordar aqui esta questão que, de resto, no clima de diálogo que se estabeleceu entre as duas Igrejas, perdeu a dureza do passado e hoje permite esperar numa plena aceitação recíproca, como uma das principais “diferenças reconciliadas”. Gosto de dizer isto: “diferenças reconciliadas”. Entre os cristãos, existem muitas diferenças: este é desta escola, da outra; este é protestante, aquele... O importante é que estas diferenças sejam reconciliadas, no amor de caminhar juntos." (grifos adicionados)

Houve comentários (neste post e outros) de alguma pessoas sobre o termo "diferenças reconciliadas", dizendo que seria equivalente como um "quadrado redondo", e que poderia implicar em algum relativismo teológico.

No entanto, o papa está abordando mais da relação entre os cristãos que se diferem sobre a questão do que da questão em si (não é atoa que ele fala que "não é o caso de abordar aqui esta questão [...]"), não havendo hoje, por causa do "clima de diálogo que se estabeleceu entre as duas Igrejas", a "dureza" do passado (no sentido de católicos e ortodoxos se considerarem 'inimigos' ou de ser impossível qualquer forma de colaboração - de "caminhar juntos" - entre ambos por razão de diferenças entre os dois, como a da Filioque) se perdeu. Isso não significa que não haja de fato diferenças teológicas entre os católicos e os ortodoxos sobre a Filioque ou que elas são irrelevantes.

Aliás, vale lembrar que o papa já afirmou a Filioque anteriormente:

"Este mistério da Trindade foi-nos revelado pelo próprio Jesus. Ele fez-nos conhecer o rosto de Deus como Pai misericordioso; apresentou-se a Si mesmo, verdadeiro homem, como Filho de Deus e Verbo do Pai, Salvador que dá a sua vida por nós; e falou do Espírito Santo que procede do Pai e do Filho, Espírito da Verdade, Espírito Paráclito - no domingo passado falamos sobre esta palavra “Paráclito” - ou seja, Consolador e Advogado." (ANGELUS, 30 de maio de 2021. grifos adicionados)

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